Israel na final da Eurovisão apesar dos protestos de milhares contra a guerra em Gaza

por Cristina Sambado - RTP
TT News Agency/Johan Nilsson via Reuters

Israel qualificou-se para a final de sábado do Festival Eurovisão da Canção em Malmö, na Suécia, onde milhares de pessoas se manifestaram contra a sua participação devido à guerra na Faixa de Gaza.

Na segunda semifinal, realizada na quinta-feira na terceira maior cidade da Suécia, os telespectadores dos países concorrentes apoiaram a cantora israelita Eden Golan como uma das dez candidatas a passar à final.
No início do dia, milhares de pessoas protestaram no centro da cidade de Malmö contra a decisão de incluir Israel na competição, enquanto prossegue a sua campanha militar em Gaza. Para sábado, estão previstos mais protestos e um concerto alternativo, denominado pelos organizadores como “um concurso de canções sem genocídio”.
Israel foi autorizado a competir este ano depois de ter concordado em alterar a letra da sua participação, uma balada amplamente entendida como uma referência ao massacre do Hamas em 7 de outubro. A versão original de Hurricane, intitulada October Rain, foi excluída pela União Europeia de Radiodifusão (UER) por violar as regras de neutralidade política.

A 68ª edição da Eurovisão realiza-se sete meses após o início da campanha de bombardeamento israelita na Faixa de Gaza e apenas alguns dias depois de as Forças de Defesa de Israel terem lançado uma grande ofensiva militar em Rafah, a cidade mais a sul de Gaza.

Golan, 20 anos, nascida em Israel, filha de pais russos, foi vaiada por membros da audiência durante os ensaios gerais na quarta-feira.

“Estou muito grata a todos os que votaram em nós e nos apoiaram”, disse a israelita de 20 anos após passar à final. “É realmente uma honra estar aqui no palco, atuar e mostrar a nossa voz, apresentarmo-nos com orgulho”, sublinhou.Israel participa na Eurovisão desde 1973, tendo vencido pela quarta vez em 2018. Esta sexta-feira, o país está em segundo lugar, nos sites de apostas, como o potencial vencedor da final de sábado, atrás da Croácia e à frente da Suíça.

Antes da meia-final, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que a candidata do seu país “já ganhou”. “Não só está a participar na Eurovisão de forma orgulhosa e admirável, como também está a enfrentar com sucesso uma onda horrível de antissemitismo”, afirmou numa mensagem de vídeo dirigida à cantora.

Israel junta-se assim ao grupo de 26 países que vão competir no sábado para suceder à Suécia como vencedores deste concurso visto todos os anos por dezenas de milhões de telespectadores. Após o triunfo de Loreen no ano passado, a anfitriã e recordista de vitórias, a Suécia, garantiu um lugar ao lado dos “cinco grandes”: França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, que são os países com maiores contribuições financeiras. Os restantes 20 países qualificaram-se através das meias-finais de terça e quinta-feira.
Segurança reforçada
Cerca de 12 mil pessoas manifestaram-se na cidade anfitriã na quinta-feira contra a participação de Israel, expressando a sua indignação com a guerra em Gaza. Para sábado, está prevista uma nova manifestação.

Entre a multidão de manifestantes que agitavam bandeiras palestinianas na praça da cidade de Malmö estava Greta Thunberg. “É escandaloso que Israel seja autorizado a participar”, disse a ativista ambiental, usando um keffiyeh axadrezado preto e branco sobre os ombros. “Não podemos ficar em silêncio durante um genocídio”.

A segurança foi igualmente reforçada, tanto na Arena de Malmö como no resto da cidade do sul da Suécia, onde se encontra a maior comunidade de origem palestiniana do país, onde as bandeiras palestinianas estão lado a lado com galhardetes de cores vivas. A neutralidade do concurso foi posta em causa na terça-feira, durante a primeira semifinal, pelo cantor sueco Eric Saade, que usava um keffiyeh palestiniano à volta do braço.


“A EBU está a tomar todas as precauções necessárias para que este seja um local seguro e unido para todos”, afirmou Eden Golan, que tem sido alvo de ameaças nas redes sociais, após a semifinal.

Para garantir a segurança do concurso, foram enviados reforços policiais de toda a Suécia, bem como da Dinamarca e da Noruega. Apesar do país anfitrião ter aumentado o nível de alerta em 2023 após atos de profanação do Corão, “não há qualquer ameaça dirigida contra a Eurovisão”, garantiu Jimmy Modin, porta-voz da polícia.

Na final de sábado, Malmö deve acolher cerca de 100 mil visitantes. E alguns membros da comunidade judaica estão a planear deixar a cidade durante o fim-de-semana.
Dois pesos e duas medidas
Manifestantes pró-palestinianos acusaram a UER de dois pesos e duas medidas. Em 2022, a Rússia foi desqualificada do festival da Eurovisão, depois da UER considerar que a inclusão do país “traria descrédito à competição”.

Dois anos depois, a UER defendeu a sua decisão de permitir a participação de Israel, frisando que a Eurovisão é “um evento musical não político” e “não um concurso entre governos”.

Este ano, o conflito na Ucrânia foi ofuscado pela guerra em Gaza, que começou a 7 de outubro, quando os comandos do Hamas levaram a cabo um ataque contra Israel que fez mais de 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelitas.

c/ agências internacionais
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